Três autarcas de Paredes de Coura emitiram um pedido de socorro ao Governo para tentar solucionar o velho problema da destruição de culturas agrícolas por gado equino e bovino que anda à solta nos montes.
Em Bico, Vascões e, mais recentemente, Mozelos, a população vive em sobressalto porque não há horta ou pasto que resista às investidas dos animais semi-selvagens. "Temos sido martirizados. O gado bravo só não vem dormir connosco à cama", queixa-se António Raínho, 69 anos, morador no lugar de Lamas, freguesia de Vascões, uma zona onde existiu uma colónia agrícola e hoje não há ninguém que não tenha já sofrido prejuízos com a descida das 'burras' (nome que a população dá aos cavalos) e das vacas dos baldios para as povoações à procura de pasto.
"Porta por porta não há ninguém que não se queixe. Isto é uma bicharada que devora tudo", corrobora a mulher de António, Delfina Raínho, de 66 anos, lamentando: "Não nos têm deixado nada para o nosso rebanho. Temos tudo vedado a rede mas não adianta. Um dia destes eu e mais o meu marido fomos no tractor e quando chegámos ao nosso terreno, à beira da estrada, lá estavam dentro três bois enormes".
À porta dos Raínho vai-se juntando vizinhança, enquanto os donos da casa desfiam histórias sem parar. "Sou bombeiro e um dia destes vinha à noite para casa e contei 19 vacas na estrada. Não me atrevi a passar porque elas são bravas atiram os cornos ao carro e estragam tudo", conta o marido de Delfina, logo seguido por mais um testemunho da mulher: "Um vizinho nosso que foi ao monte procurar um bocadinho de mato para trazer para os estábulos, quando saiu do tractor, foi atacado por uma vaca e foi parar ao hospital. Nunca mais se soube mais nada, porque depois os donos do gado não se acusam, e pronto, mal do homenzinho que ficou empenado". "Aqui tem sido uma miséria. Carros inutilizados, pessoas aleijadas, tudo por causa desse gado maligno…", lastima.
Que o diga Maria de Sousa, que ao 75 anos exibe numa perna as marcas de um episódio vivido com animais bravios. "Uma vez foram-me às couves e eu fiquei aleijada porque fui atrás das 'burras' para as tirar do campo e caí", lembra a idosa, deixando transparecer nas palavras a sua revolta: "Até tinha coragem de lhe dar um tiro".
Histórias como estas ouvem-se por toda a região, principalmente, nas freguesias de Vascões e Bico, e, por causa disso, há mesmo quem defenda que a destruição de cultivos explica o aparecimento de animais mortos a tiro ou envenenados no concelho. Recorde-se que no ano passado foi encontrada na área da Paisagem Protegida de Corno de Bico uma dezena de garranos chacinada a tiro de zagalote e, mais recentemente, foram encontradas outras três cabeças de gado equino abatidas a tiro na freguesia de Mozelos. Até agora, as autoridade não acharam explicação para o sucedido, apesar de, pelo menos, no primeiro caso, as investigações se encontrarem sob a alçada da Polícia Judiciária.
Ana Peixoto Fernandes, "Gado bravo só não vem dormir na nossa cama", Jornal de Notícias, 26 de Maio de 2009, p. 18.
terça-feira, 26 de maio de 2009
terça-feira, 19 de maio de 2009
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sábado, 16 de maio de 2009
Declaração
A M. acabou o teste num ápice. Afastou o teste, como quem afasta o prato sujo à refeição para passar à sobremesa. Deitou-me um olhar, meio de desafio, meio de pedido. Pegou num caderno e recomeçou uma escrita a lápis. É um caderno A5, quadriculado, com argolas.
- Não são as suas memórias, suponho.
- Não - e a M. ri-se. A M. tem 15 anos.
Passado um bocado a L. levanta-se, apanha o caderno da M., e começa a ler. Acena com admiração. A B. depois pega no caderno e também lê. Ri-se e acena. A A. também é rapariga e por isso também é gente. Ela lê e também acena elogiosamente. São 3 páginas conta a A.
- Olha lá, tchavalo? - pergunta a A., baixinho, insistindo no t.
- Sim, eu digo tchavalo - responde a M. contente com a sua variante estilística.
A M. recupera o caderno e retoma a escrita.
- Mas são confidências?
- Não, é uma declaração de amor!
- Oh, que bonito!
- Não são as suas memórias, suponho.
- Não - e a M. ri-se. A M. tem 15 anos.
Passado um bocado a L. levanta-se, apanha o caderno da M., e começa a ler. Acena com admiração. A B. depois pega no caderno e também lê. Ri-se e acena. A A. também é rapariga e por isso também é gente. Ela lê e também acena elogiosamente. São 3 páginas conta a A.
- Olha lá, tchavalo? - pergunta a A., baixinho, insistindo no t.
- Sim, eu digo tchavalo - responde a M. contente com a sua variante estilística.
A M. recupera o caderno e retoma a escrita.
- Mas são confidências?
- Não, é uma declaração de amor!
- Oh, que bonito!
terça-feira, 5 de maio de 2009
Comunicação
- Mas isso é grátis?...
- Sim, temos 1500 mensagens por dia.
- 1500 mensagens gratuitas?!
- A gente faz um carregamento, e podemos enviar essas mensagens por dia.
- Mas quanto é o carregamento?
- Duas em duas semanas, €5.
- Mas não gasta as 1500 mensagens diárias, imagino...
- Não mas um dia andei perto, 1450.
- Para o namorado?!
- E para outras pessoas, claro.
- E também envia mensagens à mãe?
- Não, ela não sabe ler mensagens.
- Sim, temos 1500 mensagens por dia.
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- Não, ela não sabe ler mensagens.
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