terça-feira, 23 de dezembro de 2008

A Internet sucks!


Nalguns momentinhos de "socialização" os alunos estão na sala de aula e gozam de acesso livre a computadores com ligação à Internet. O que observamos nessas alturas?

As meninas entram no Youtube para ouvir música, os rapazes vêm palhaçadas no Youtube, há um ou outro adepto do Googlearth, mas sobretudo os rapazes jogam - são disparados milhares de tiros contra terroristas. A Internet não é consultada.

A Internet faz-me pensar numa enciclopédia popular e de acesso muito simples - basta clicar para encontrar inúmeras páginas sobre inúmeros temas. Mas quando penso na minha própria escolaridade longe dos computadores e da Internet, lembro-me que raramente utilizei enciclopédias. Lembro-me de um trabalho que fiz no Secundário em que as utilizei. Mas pouco mais. Ou seja, não é de estranhar que um aluno normalíssimo não tenha o reflexo de procurar informação on-line tendo, isso sim, uma visão lúdica da coisa: jogos, música, palhaçadas.

O enlevo pela Internet relativamente à educação dos meninos do básico e do secundário é disparatado. O software pedagógico será sempre mais aborrecido do que executar terroristas ou ouvir música. O computador é lúdico e não é um professor numa sala com 25 ou 28 meninos que vai contrariar a ideia. Os alunos "sabem" mais de computadores do que o professor e ninguém o vai ouvir. Associo sempre o óptimismo ministerial pelos computadores à crítica de Manuel Castells: os governantes elegem os computadores para encher os olhos dos cidadãos porque é muito mais barato e fácil do que resolver os verdadeiros problemas da educação, da saúde, da justiça,...

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

A turma...

Ao ver o filme de Laurent Cantet percebi melhor o entusiasmo de Daniel Sampaio pelo filme - realmente o professor/protagonista desdobra-se para "chegar" aos alunos, fazendo apelo à sua cultura para conduzir (seduzir?) a turma. Algumas notas: A "aflição" do professor quando faz a contabilidade do tempo perdido - 5 minutos para entrar, 5 para sentar, 5 para começar a trabalhar - reflectindo que noutros escolas mais organizadas isso não se passa, deve ser comum à maioria dos professores portugueses; a confusão da turma reduz o trabalho realizado - e parece que apenas podemos aspirar a um contributo para a socialização do aluno; as aulas no liceu francês duram 60 minutos e não o massacre dos 90 minutos portugueses; apesar da confusão do ambiente da aula, quase sempre os alunos levantam o braço para pedir a palavra, aguardando a licença do professor; os procedimentos administrativos parecem mais simples do que os nossos e o director do liceu dirige a reunião de notas; não existem estruturas na Escola para gerir os casos dos alunos dificeis - funcionando apenas a força regularizadora da ameaça de expulsão. Um último aspecto é o tratamento por tu - o professor trata os alunos por tu, exige que seja tratado por "vous" e há uma crise quando um aluno o trata desrespeitosamente por tu... Tenho lido que está em discussão em França o tratamento por tu dado aos alunos.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

A greve numa voz popular

Num café um sujeito dizia para o amigo (e para toda a gente na vizinhança de 10 metros, onde calhava encontrar-me): "Isto é uma vergonha, uma vergonha, os professores a fazerem greve! Ganham seiscentos contos para ensinar o aeiou e querem o quê? Trabalham 12 horas por semana para ensinar o aeiou, e ganham seiscentos contos. Seiscentos contos! São os professores que mais ganham na OCDE, só são batidos pelos alemães." E repetia, "para ensinar o aeiou ganham seiscentos contos".

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Greve

Aderi à greve. A economia cresce poucochinho, a retracção demográfica tira alunos ao sistema escolar, Portugal fica malzinho nos PISA periódicos - não é de esperar grandes milagres nas condições de trabalho e de remuneração dos professores. Mas isso não implica que o Ministério massacre os professores com um sistema de avaliação chatinho e de resultados mais do que incertos relativamente à melhoria do ensino.

Num dia de luta fica uma palavra de mea culpa: falta profissionalismo no sistema de ensino. O ano passado vi uma professora que não tinha feito greve a insurgir-se contra uma aluna que, ao invés dos outros colegas, tinha aparecido para ter aulas. "O que fazes aqui?", perguntou a professora. A aluna foi despachada rapidamente e a colega regressou à sala dos professores. Este ano, fui recambiado da biblioteca da escola: "senhor professor o que faz aqui?" Perguntou a funcionária, admirada de me encontrar na biblioteca sentado em frente ao computador. "A biblioteca está fechada!". Que eu saiba a greve é apenas dos professores...