sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

A turma...

Ao ver o filme de Laurent Cantet percebi melhor o entusiasmo de Daniel Sampaio pelo filme - realmente o professor/protagonista desdobra-se para "chegar" aos alunos, fazendo apelo à sua cultura para conduzir (seduzir?) a turma. Algumas notas: A "aflição" do professor quando faz a contabilidade do tempo perdido - 5 minutos para entrar, 5 para sentar, 5 para começar a trabalhar - reflectindo que noutros escolas mais organizadas isso não se passa, deve ser comum à maioria dos professores portugueses; a confusão da turma reduz o trabalho realizado - e parece que apenas podemos aspirar a um contributo para a socialização do aluno; as aulas no liceu francês duram 60 minutos e não o massacre dos 90 minutos portugueses; apesar da confusão do ambiente da aula, quase sempre os alunos levantam o braço para pedir a palavra, aguardando a licença do professor; os procedimentos administrativos parecem mais simples do que os nossos e o director do liceu dirige a reunião de notas; não existem estruturas na Escola para gerir os casos dos alunos dificeis - funcionando apenas a força regularizadora da ameaça de expulsão. Um último aspecto é o tratamento por tu - o professor trata os alunos por tu, exige que seja tratado por "vous" e há uma crise quando um aluno o trata desrespeitosamente por tu... Tenho lido que está em discussão em França o tratamento por tu dado aos alunos.

5 comentários:

Pedro disse...

Fiquei (ainda mais) curioso por ver o filme... Pode ser que aprenda qualquer coisinha. Afinal de contas, há filmes que não servem apenas para passar o tempo!

Storinha disse...

Fui ver o filme com os meus alunos do CEF (sim, eu sei que pareço masoquista...).
Gostei muito do filme; se bem que tudo aquilo podia passar-se numa das minhas aulas. Mas foi curioso no dia seguinte conversar com os alunos acerca do que tinham visto, e do que tinham entendido. A opinião geral era de que o filme tinha sido "uma seca", porque era francês..., porque era muito parado..., e o mais curioso era que quase todos eles consideravam que o filme era acerca de um professor que não tinha mão nos alunos e deixava que eles fizessem tudo o que queriam nas aulas...
No fim ainda me disseram que preferiam ter ido ver o High School Musical... dei comigo a pensar o que será destes jovens daqui a uns anos...
Mas o filme valeu a pena. Deu para nos pôr a reflectir...

João disse...

Storinha, acho que em boa parte subscrevo a síntese dos alunos: o filme é sobre um professor que não tem mão nos alunos... A verdade é que se os alunos tiverem comportamentos não-sociais o professor é impedido de fazer o papel que o Ministério espera dele - trabalhar um conjunto de matérias, ajudando os alunos a adquirir os conhecimentos previsto num programa escolar. E o filme gira todo à volta disso, culminando com a expulsão de um aluno. O professor não só não tem mão nos alunos como navega na incompreensão dos colegas e da direcção da escola. A escola é incapaz de encontrar soluções para os problemas e o professor está sozinho na sala de aula. Aliás há uma leitura do nome do filme em francês que se perde na tradução portuguesa. Em francês o filme não se chama "La classe", a que corresponde a tradução "A turma", mas sim "Entre les murs", o que em português poderá ser qualquer coisa como "Dentro de quatro paredes": ou seja o professor está fechado numa sala, confrontado com alunos desinteressados e derespeitadores das convenções sociais.

Luís Palma de Jesus disse...

Ontem, 13/09/2009, passou na rtp2, apenas vi uns 10 minutos salteados. Concordo, lamentavelmente, com os alunos CEF na secura do dito. Provavelmente referiam-se, perplexos, ao facto do filme basear-se em preplexidades docentes que mais não são do que uma simples evidência: «falta de mão».

João disse...

Acho que a "falta de mão" é uma quase fatalidade quando campeia o desinteresse e o desrespeito...